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Ai, Pedro, que texto bonito. Eu daqui com a minha coleção particular de mortos, te abraço.

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Vindo de você é um elogio e tanto, Gabriela. Obrigado! E você definiu com perfeição: nós e nossa coleção particular de mortos!

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Tem nem o que dizer de um texto desses. Resumiu o porquê da morte doer tanto pra muita gente. Não é por quem foi, mas pelo peso do arrependimento pelo que não foi.

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Não é à toa que a galera fantasia tanto sobre os fantasmas voltando pra finalizar as coisas mal resolvidas.

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Exatamente o que pensei. Mas já reparou que são sempre os fantasmas que tem coisas mal resolvidas, quase nunca elas?

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É que presume-se que pros vivos ainda existe tempo. O tempo deles já acabou e eles estão nos acréscimos querendo fazer o gol da virada, me parece.

Ou pelo menos dar um pescotapa no juiz, sei lá.

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"Agora meu pai morreu e não consigo escrever sobre meu pai."

Acho que uma palestra sua de uma hora e vinte e dois minutos em um palco da hinode não descreveria um centésimo do que esse texto transmitiu sobre a imensidão que era seu pai.

Eu lembro dos seus textos no utops sobre a sua irmã e a revolta e a raiva em cada palavra digitada, eram outras épocas.

A morte tem muito dessas peças aí, ela vem para quebrar as coisas e deixá-las inacabadas, a resolver, a ser pago, se eu fizesse, se eu pudesse. A morte é a mãe das procrastinações, e a gente vai acabar dando o peido mestre com uma lista de pendências que foram para a eternidade empurradas com a barriga.

E essa é a mágica toda: a gente fica com a sanha e o siricutico de que tem que mudar, tem que se cuidar, tem que viver melhor, carpe diem, pararei de fumar, não bebo mais; mas a morte vai te colocar novamente nesses trilhos porque o vicio e a preguiça e a rotina são os filhotinhos cativos da obsolescencia programada da nossa centelha de vida.

eu gostaria muito de ler seus livros, inclusive gostaria muito que você lesse os meus. A gente parece o Guimba e o Sabiá, no conto abaixo. Mas no caso os dois são o sabiá. Não tem o Rosa nessa historia:

Guimarães Rosa, ao saber que Fernando Sabino continuava escrevendo crônicas, lhe disse: ‘’Não faça biscoitos, faça pirâmides’’.

E tô vendo que quando vc for no meu velório vai falar esse puto tinha que escrever e quando eu for dançar em cima do seu caixão vai ser porque você disse que escreveria um livro ele ele foi junto contigo nessa cabeça cheia de ideias.

(eu nao consigo nem marcar um café com polenta contigo imagina escrever um troço que tenha mais de 20 paginas)

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Quando minha irmã morreu foi um lance de puro desnorteamento mesmo. Óbvio que no dia em que eu soube que ela tinha leucemia a possibilidade daquilo acontecer foi a primeira coisa que veio à minha cabeça. Eu tava a caminho da faculdade e passei a aula chorando e fingindo que não tava chorando porra nenhuma. Olhando em retrospecto, foi engraçado.

A notícia da morte do velho eu recebi com um baita alívio, porque a situação que ele tava era horrorosa pra todo mundo. Especialmente pra ele. Porém fica essa merda toda não resolvida. E eu acho que a ideia a se trabalhar tem que ser essa: ir fechando o máximo possível de pontas soltas. Lidar com a vida como quem escreve um roteiro fechadinho. Ir resolvendo o inexplicável. Ir movendo as peças. Ir empurrando as coisas pra frente, não com a barriga.

Mas, claro, essa é uma decisão que a gente toma imediatamente assim que alguém morre.

E da qual esquece um mês depois.

A gente tem que sentar pra tomar cerveja de novo, porra. E vê se escreve um livro, cara! Seria foda (eu não vou não!).

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