[035] Oscaritos, 2023 - 1 de X
Sobre a corrida para ver os indicados ao Oscar 2023. Nesta edição: The Banshees of Inisherin e Elvis.
De fracasso em fracasso a gente vai fracassando cada vez melhor, até se tornar um especialista em fracasso.
…achou que vinha uma mensagem positiva?
Você tem alguma ideia do que caralhos você tá lendo? De quem é teu “interlocutor” aqui?
Toma tenência, caceta.
Ano passado, do alto de minha imensurável falta de bom-senso, eu fiz o desafio público de (tentar) assistir pelo menos todos os filmes que iam concorrer ao Oscar de melhor filme dez dias antes da premiação.
E falhei.
Este ano será diferente:
Este ano eu iniciei o projeto com trinta e quatro dias de antecedência, de modo a falhar com muito mais folga, muito mais tranquilidade. Sem pressa, sem afobação. Vou falhando devagarzinho, vendo a data limite se aproximando enquanto procrastino com todo o sossego do mundo.
Sou um campeão nesse negócio. Um dia ainda monetizo essa parada…
Como sou um Maluco Metódico™, mais uma vez preparei uma planilha com a lista dos concorrentes, as categorias nas quais estão concorrendo e um campo que me permite controlar o que já vi e o que falta ver.
E, como de costume, de modo a “me forçar” (bem sabemos que não consigo me forçar a fazer quase nada, mas gosto de fingir que sim) a tocar o projeto adiante, trarei para cá os comentários a respeito dos filmes que assistir.
Sei que a situação parece precária, com apenas 4 de 17 filmes vistos, mas estava bem pior! Ao me dar conta do atraso em relação à premiação deste ano, em 7 de fevereiro, percebi que só tinha assistido dois filmes: Everything Everywhere All At Once e Avatar 2. Aos poucos vamos caminhando.
De lá pra cá já adiantei mais dois: The Banshees of Inisherin e Elvis.
Falemos, pois, desses dois últimos.
Há uma frase do Borges, do ensaio A Flor de Coleridge, da qual gosto muitíssimo:
Não há ato que não seja coroação de uma infinita série de causas e manancial de uma infinita série de efeitos.
Ele diz isso ao falar da literatura, quando se trata, na realidade, de uma verdade sobre a vida. A literatura sendo uma tentativa de capturar a essência da vida, podemos extrapolar e considerar o aforismo como aquilo que de fato é: uma definição do todo, não da parte.
Eu diria que é muito difícil – não vou dizer impossível porque me soa demais como falar merda, mas admito a tentação – apontar uma história que não traga essa questão, em maior ou menor grau. Oras, se é a pedra fundamental do ato de contar qualquer coisa. E, se levada da forma correta, causa uma espécie de arrebatamento.
Foi a sensação que tive assistindo The Banshees of Inisherin.
É uma dessas histórias que te fazem ficar maluco com as pequenas coisas. Com o irrelevante. E, se as pessoas envolvidas fossem minimamente racionais, sãs, equilibradas, a história não existiria.
Mas todo mundo é maluco. Loucuras complementares, que se retroalimentam. E assim as coisas pequenas e irrelevantes vão ganhando uma proporção cada vez maior até se tornarem insustentáveis.
Os personagens olham para o ponto sem retorno e fazem o quê?
Isso mesmo, afundam o pé no acelerador.
Eu gosto demais dos filmes do Martin McDonagh. Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e In Bruges são duas das histórias mais tristes, infelizes, lastimáveis e trágicas que já acompanhei. E são, também, das mais engraçadas. Porque é isso que ele faz. Ele tem esse senso de humor repreensível (e uma cisma com anões). CERTEZA que é o tipo de pessoa que faz piada em enterro.
Como eu sou o tipo de pessoa que faz piada em enterro (e que é cismada com anões), a gente se entende.
Se você é o tipo de pessoa que não gosta de ouvir piada em enterro (ou acha anões engraçados), talvez não goste muito dos filmes. Mas aí quem tá errado é você. Vai se tratar.
Não sei se leva alguma estatueta, embora mereça. Para melhor ator eu apostaria no Brendan Fraser, por A Baleia, ou no Austin Butler, por Elvis. Para melhor filme e direção, provavelmente vai perder para Everything Everywheretc ou (considerando o quanto a academia gosta de autorreferências) The Fabelmans. Mas, no meu coração, já é o favorito.
Dei 4 estrelas e um coraçãozinho no Letterboxd.
Elvis tem um mérito que é inigualável e preciso ressaltar antes de qualquer outra coisa:
Nunca vi um filme tão corrido e ao mesmo tempo tão arrastado. E demorei a entender como Baz Luhrmann conseguiu essa proeza. Daí fui procurar os outros filmes dele no IMDB e entendi por que a dinâmica da história não me desceu: nunca vi um filme desse cidadão que eu apreciasse.
Romeu e Julieta (aquele do DiCaprio), O Grande Gatsby (aquele do DiCaprio), Moulin Rouge (não tem o DiCaprio)… achei tudo uma merda. As escolhas desse sujeito para as narrativas visuais que ele encabeça sempre me irritam. Tudo tem um ar meio corrido, você tem a sensação de estar vendo um videoclipe. Ele é só um McG um pouquinho mais ambicioso, mas com o mesmo nível de competência.
Ao menos McG tem autocrítica e fica preso em coisas condizentes com sua capacidade (videoclipes razoáveis e filmes e séries ruins).
O filme não tem nenhuma profundidade. Tudo o que acontece é por alto. Por alto vemos a infância de Elvis como menino branco num bairro negro; por alto vemos a história da prisão do pai; por alto vemos a relação do menino com a música como experiência catártica; por alto vemos sua admiração pelo blues e por grandes nomes (negros) do início do Rock’n’Roll, como Sister Rosetta Tharpe; por alto vemos a relação do rapaz com a banda; por alto vemos a relação do homem comum com a fama; por alto vemos a relação entre Elvis e Priscilla; por alto vemos o abuso de substâncias; por alto vemos os solavancos da carreira…
Absolutamente nada se aprofunda. Se você sabia 0% sobre Elvis no começo do filme, ao fim você saberá 3%.
Mas, justiça seja feita, Austin Butler e Tom Hanks estão formidáveis. É inclusive uma pena que o segundo não tenha sido indicado.
Dei duas estrelas e meia no Letterboxd.
Nos próximos dias pretendo assistir All Quiet on the Western Front e The Fabelmans. Nenhum dos dois me empolga muito: um porque me parece estar aí apenas para cumprir a cota de Filmes de Guerra® do ano, e o outro por ser 1) do Spielberg, a quem não dou muito crédito depois daquela porcaria pela qual foi indicado ano passado e 2) por ser ligeiramente autobiográfico.
Sobre o segundo item, explico: considero "ligeiramente autobiográfico” uma covardia. Quer brincar dessas coisas, faça tal e qual Karl Ove Knausgard e vá de All-In.
Você vai notar que a maioria dos títulos aí está em inglês. Isso é assim porque eu me oriento pelo site do Oscar, que, veja só, está em inglês, e porque muitas vezes os títulos brasileiros são adaptados e essas adaptações são idiotas.
Se você tiver qualquer dúvida sobre a que filme eu me refiro ao usar o título em inglês, não se preocupe: tenho a solução para o seu problema. De nada.
Um dos filmes indicados que mais me interessa, The Living, está sendo impossível de encontrar: não tem data de estreia prevista no Brasil. Se você, prezado ente leitor, zanzando pelas prateleiras da Locadora Sueca©, encontrar o arquivo, agradeço imensamente por me enviar o link.
E caso precise de legenda para qualquer um dos filmes, é só dar um grito. Com a morte do Legendas.tv, tenho garimpado essas coisas em ambientes insalubres como o OpenSubtitles.org e quetais. Não recomendo a ninguém o passeio por esses campos minados de Malwares diversos. Se já me sujeitei a invadir as trincheiras, não vejo problema em compartilhar o espólio.
Volto amanhã. Ou sexta. Ou semana que vem. Quem sabe? Ninguém sabe. Eu, pelo menos, não sei, e não me venha com determinismos cósmicos, pois não admito que me neguem a pouca agência que a vida no capitalismo me permite.
Melhor produção do Baz Luhrmann é uma propaganda da Chanel com a Gisele Bundchen de alguns anos atrás e é isso. Amo brilhos, mas os filmes dele brilham demais, ficam tudo com cara de musical velho ou roupa de palhaço.
Assisti Maverick em uma tela temática (cacoete do carilho): voando para visitar os malditos ianques norteamericanos em um avião da American. Como era de se esperar o audio estava ruim a imagem estava queimada de dedo sujo e agora tenho que assistir novamente para ver se merece best picture (spoiler: acho que nao)