…quem diria que aquele alçapão ia dar aqui?
Estou sofrendo bullying do Substack. A plataforma me manda e-mails regularmente informando que não escrevo há meses. Eu sei disso, vocês sabem disso, tá todo mundo tranquilo em relação a esse fato. Exceto o algoritmo: ele acha que é um problema.
Até quando você faz algo por hobby, sem nenhum interesse financeiro, vem um capataz estralar um chicote no teu lombo, tentando espremer alguma mais-valia do teu esforço.
É foda.
Então escreverei qualquer merda aqui e você que se aborreça lendo um punhado de qualquer merda.
Ou não leia.
Eu não leria.
Sério, vai fazer outra coisa, porque daqui pra frente é só ladeira abaixo.
Já avisei.
Tá avisado.
Não desistiu, né?
Bom, foda-se então. Depois não reclama.
Que porra é essa que a gente tá assistindo?
Sério.
Tem uma tirinha do Saturday Morning Breakfast Cereal sobre a qual acho que já falei por aqui - mas vou falar de novo, porque, ao menos pra mim, ela explica muita coisa.
Trata-se de um diálogo entre dois personagens sobre o absurdo da realidade que vivemos e como as coisas vão se tornando mais e mais absurdas com o passar do tempo.
O absurdo chama a minha atenção. Como já deveria ter ficado evidente. Porra, tá na descrição desta newsletter. E eu não falo do absurdo no sentido filosófico, do Camus, que trata da tensão entre a nossa consciência do mundo e a realidade do mundo. Não é que isso não me incomode, e não é que eu não aborde essa questão, mas trabalho muito mais no campo da lógica, da plausibilidade - ou, melhor dizendo, de tudo o que, pra mim, escapa à lógica e a plausibilidade.
É aquele papo (falso) de que abelhas não deveriam voar, segundo o que os físicos entendem como sendo as leis básicas da aerodinâmica, mas voam mesmo assim.
Enfim, as coisas pareciam ter um certo pudor ao caminhar para a loucura.
Ou talvez o meu alarme do que era loucura e do que não era tenha sido calibrado numa época e agora está anacrônico e apita diante do que, pra muita gente - mais jovem, invariavelmente - é totalmente normal.
Em resumo, estou velho.
Pode ser isso.
É muito provável que seja.
Ando de saco cheio de bom-mocismo.
Quero dizer, nunca tive muita paciência pra esse tipo de coisa, mas ultimamente piorou. Porque, me parece, as pessoas perderam a mão em relação a esse negócio. É sempre essa questão de mostrar virtudes individuais. E o problema é que virtude individual não resolve porra nenhuma.
É isso aí mesmo que você leu.
Você, como indivíduo, pode ser um crápula. Isso é problema teu. O que me interessa é o resultado do que você agrega socialmente. Ou desagrega. É isso que pesa. Teus hábitos, comportamentos de crápula se refletem na sua visão social? Geralmente sim, haja vista o tanto de defensores daquele ser escroto que infestou a presidência da república recentemente e que são crápulas inegáveis. Uma existência crapulosa, a mais abjeta falta de civismo e civilidade transbordando em todos os aspectos da vida deles.
Mas às vezes não. Às vezes a pessoa tem as percepções sociais afiadas e o bem-estar geral em vista, mas, reduzida ao particular, daí é um ser asqueroso.
Fico me perguntando se o oposto pode ser verdade. Acredito que pode. Acabei de pensar num exemplo e não vou citar nominalmente. Pode.
Porque é isso, as coisas não são em si mesmas. As coisas são multifacetadas. A vida é difícil.
A vida é difícil porque escolher é difícil. Mas é fundamental. É necessário escolher. E escolher ativamente. Despertar e dizer eu escolho isto. Meu caminho será este. A coerência aponta nesta direção e, por mais que eu não queira seguir por tal caminho, é o único possível.
Falo do twitter, mas não apenas. Porém especialmente.
Entendo que o desapego de migrar para outra rede social - como o Bluesky - ou até mesmo nenhuma, apenas me limitar a frequentar o chat do meu grupo de RPG no Whatsapp, por exemplo, é muito mais fácil para mim do que é para muita gente por aí.
As redes sociais se tornaram nosso sucedâneo de relações interpessoais. Essa migração implica o rompimento de círculos de amizade, de reconfiguração do nosso horizonte de contatos. É quase como uma mudança de cidade, de trabalho. Não é uma mudança fácil e tem impactos. Especialmente em gente que não é acostumada a esse tipo de virada de cenário.
Mas é fundamental levar em consideração o Efeito Nazista™.
Se suas ações favorecem um nazista (ou vários), a Ação Moral® a ser tomada está muito clara à sua frente. O conformismo, o conforto, o hábito, nada mais justifica. É aceitar favorecer o nazista ou negar favorecer o nazista.
Você precisa escolher.
Não me lembro se em um stand-up ou em uma entrevista, Louis CK certa vez disse algo que ficou registrado na minha cabeça: que as pessoas não consideram nada além de suas coisas favoritas, aquilo que elas querem fazer, aquilo que elas entendem como sendo o caminho de menor sofrimento, de maior prazer, de maior satisfação pessoal.
Entre essa coisa, a coisa que elas acreditam desejar, e a segunda coisa na fila, não importa quão pequena seja a diferença, elas sempre optarão pela primeira.
É aquilo que elas querem e vão resistir à mudança até que não exista outra opção.
O Twitter é isso.
Todo mundo sabe quem se beneficia por aquela rede continuar sendo movimentada. Todo mundo sabe quem está ganhando, para quem vão os lucros, o que a sobrevivência daquela plataforma - a despeito de todas as atrocidades cometidas pelo dono da empresa - está gritando para os CEOs das plataformas concorrentes.
Permanecer lá diz algo muito claro aos bilionários responsáveis por essas merdas.
Mas as pessoas não querem sair do lugarzinho confortável delas.
A segunda opção, não interessa quão semelhante, não é a mesma. Não é a mesma coisa. E as pessoas têm grandes discursos de percepção social, de se importar com a sociedade, de rejeição ao acúmulo de grandes fortunas e aos biolionários… e tudo isso é muito bonito e muito legal, mas porra, não me peça pra sair da minha rede social só porque o dono é um bilionário que comprou o negócio pra criar uma plataforma que beneficie nazistas.
Isso aí já é pedir demais.
Por mais escrota, por mais errada que seja nossa coisa favorita, é nossa coisa favorita. E faremos nossa coisa favorita, e que se fodam as consequências, porque a segunda hipótese não é o suficiente. Não nos basta. Não interessa se for praticamente igual. Não é a nossa coisa favorita. É outra coisa. Outra coisa não é a coisa. Eu quero a coisa, não quero outra coisa.
Eu ia dizer que isso resume o twitter e quem por lá continua, mas a real é que a humanidade em geral é assim. E não me excluo. Louis CK provavelmente não se excluiria também, se perguntássemos a ele.
Você leu até aqui. Você também não pode se excluir desta regra.
É o que é.
É o que somos.
Enfim. Quem quiser quebrar esse ciclo e mudar do twitter pro Bluesky, tenho convite. Só avisar.
Não vou revisar este texto. Não revisar é minha coisa favorita.
Mais do que o Twitter, puta coisa difícil de abrir mão é a Amazon. Prime delivery é um vício quando você passa o dia olhando pela janela, esperando pacotinhos chegar. Ainda que sua compra sejam livros.
Eu gostaria de quebrar o ciclooo, aceito convite para o Bluesky :)