[031] Metendo a mãe... ops... a MÃO em vespeiro:
Eu sei que minhas chances de ganhar na loteria são mínimas (pra não dizer nulas).
Eu sei que aquelas máquinas de pegar bichinhos são programadas pra evitar que o jogador ganhe.
Eu sei que caça-níqueis são programados para premiar apenas uma pessoa a cada N (sendo N um número ridiculamente alto) jogadas.
Eu sei que aqueles desafios tipo "acerte a bolinha no buraco" que existem em parques de diversões são todos pensados para impedir que o jogador leve o prêmio.
Também sei que os juros sobre os gastos no cartão de crédito são maiores do que os juros de rendimento da poupança bancária em uma proporção imoral (obscena seria um termo mais adequado).
Tenho consciência disso tudo. Então, quando gasto meu dinheiro em algum negócio desses - ou meu salário acaba e eu resolvo fazer uso das reservas do Nubank -, vou com a clara noção de que estou entrando pra me foder. E sempre me fodo
(Ok, uma vez consegui pegar um bichinho numa máquina. Em 1996.).
Mas a ideia é: eu me fodo e eu não reclamo, porque desde o princípio tinha ciência de onde estava me metendo.
Se eu entrar nas redes sociais e fizer um post indignado porque paguei 200 reais em bilhetes da Mega Sena e não levei o prêmio, ou porque gastei mil reais num caça-níqueis e não ganhei nada, ou porque torrei minhas economias em uma máquina de pegar bichinhos e só consegui UMA pelúcia vagabunda, meu post vai viralizar e eu vou me tornar piada. Olha esse trouxa que não entende jogos de azar! Olha esse otário acreditando que ia conseguir ganhar e demonstrando estupefação ao perceber que as estruturas desses folguedos são propensas à frustração, não à recompensa!
Olha esse imbecil: um ADULTO que não sabe como a vida funciona!
Né?
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Tudo isso pra dizer que:
Eu tenho ZERO empatia com mães.
Uma mulher adulta que decide, voluntariamente, engravidar, e que, a partir disso, se vê sobrecarregada, tendo que criar o filho praticamente sozinha porque o pai não faz porra nenhuma, tendo suas possibilidades de lazer reduzidas por não poder sair e se divertir quando, como e pra onde quiser, está sofrendo as consequência ÓBVIAS das escolhas que fez.
Portanto esse papo de "se você proíbe a entrada de crianças em determinado lugar, você também veta às mães acesso ao lugar", sabe? Pois bem: foda-se. Deviam ter pensado nisso ANTES.
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Começa que eu tenho zero simpatia por quem se reproduz. Vamos desenvolver a ideia a partir daí: você olha pra esse mundo, com suas estruturas sociais viciadas, com suas injustiças, com sua violência, um mundo no qual mais de 80% da população é basicamente escrava e tem, como opções, trabalhar ou morrer de fome. Você vê as notícias sobre a natureza, sobre a situação climática, sobre as áreas verdes cada vez menores, as temperaturas cada vez maiores, geleiras derretendo, uma ilha de plástico boiando no oceano, ninguém fazendo nada, capitalismo comendo, agronegócio grassando, o fascismo voltando de roupa nova (ou nem isso) em vários países, o abismo entre ricos e pobres ficando cada vez mais monstruoso, a situação se tornando cada vez mais insustentável.
Você vê isso tudo e mesmo assim resolve trazer uma consciência pra esse plano de realidade.
Você é um filho da puta.
Vamos começar por aqui. Agora retomemos o raciocínio anterior.
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Se você é uma mulher, se tem acesso à educação, se tem o mínimo de consciência a respeito do mundo em que vive, você SABE que as estruturas sociais são injustas, que você é um elo fraco da corrente, que a corda estoura do seu lado. Você sabe que, via de regra, quando um casal tem um filho, quem vai se foder e se desdobrar pra dar conta do fedorentinho é a mãe.
Você sabe que o Estado não oferece creches gratuitas de qualidade, você sabe que não existe uma estrutura social de suporte, você sabe que será o SEU tempo sendo empenhado quase 100% no desenvolvimento do rebento.
Você sabe das taxas de abandono paterno, você sabe que, ainda que o pai não abandone vocês dois, ele pode perfeitamente deixar o grosso das funções parentais no teu colo e continuar vivendo como se nada tivesse acontecido: trabalhando, fazendo academia, jogando o futebolzinho nas quartas à noite, viajando, curtindo a vida, enfim, largando todas as responsabilidades no seu lombo e aparecendo só pra fazer o papel regulamentar, tirar umas fotos, meter no Instagram e é isso.
Você sabe que isso pode acontecer.
Você sabe que é muito provável que aconteça.
A literatura te avisa sobre isso. As novelas te avisam sobre isso. Os jornais te avisam sobre isso. A experiência diária, a convivência com qualquer mulher que tem filhos te avisa sobre isso.
Se você "não sabia" que ia ser assim, se "acreditava que ia ser diferente", você é a pessoa que jogou na Mega Sena, perdeu e tá reclamando.
Então vamos pensar nesse arquétipo aqui: o da mulher ADULTA. COM ESTUDO. Ela não é uma idiota, ela não é uma incapaz. Um ser humano com AGÊNCIA. AUTONOMIA. Que tem conta bancária, carteira de motorista, título de eleitor. Ela é considerada socialmente um ser humano em posse de suas funções deliberativas (menos pra abortar, óbvio).
Então, se essa mulher decide - DECIDE, veja bem, não por acidente: DECIDE! - ter um filho, tem esse filho, depois fica nas redes sociais reclamando que, nossa, como é difícil a vida de mãe, nossa, não posso mais ir a todos os lugares aos quais eu ia antes, nossa, tal lugar não aceita criança e eu não tenho com quem deixar meu filho, portanto também fui excluída, nossa, a sociedade me priva de determinadas opções de lazer, não me oferece descanso, não me trata com respeito...
Parabéns.
Você é tipo alguém que saca dois mil reais do cartão de crédito e coloca na poupança (ou, vá lá, em criptomoedas) achando que os rendimentos desta servirão para arcar com os juros daquele.
Te desejo mais bom-senso da próxima vez. E boa sorte ao seu filho, ele vai precisar: além de ter sido colocado em um planeta nestas condições, será criado por alguém que não consegue pensar antecipadamente nas consequências das escolhas que faz.
P.S.: Não estou falando de quem engravida por acidente. Sei que acidentes acontecem e sei que nossa sociedade não oferece opções para interrupção da gravidez. Nesse caso lamento imensamente pelo seu martírio. Saiba que, nessas circunstâncias, eu me solidarizo.
Porém continuo achando razoável que catarrentos sejam vetados em certos ambientes, sim. Sinto muito.